NOVA CASA DO RUBENS

É um espaço - não oficial e não patrocinado - criado pelo artista Rubens Curi dentro de seu apartamento.
Além de ser o estúdio do artista, possui um mini-teatro, à la cabaret, com capacidade para 30 pessoas.
A idéia nasceu da necessidade de autonomia para o desenvolvimento de criações, apresentações e mostras experimentais.

COMUNICADO

As atividades do Espaço Nova Casa Do Rubens estão encerradas.

Entre 2010 e 2016, quantos artistas, amigos, parceiros e visitantes proporcionaram noites memoráveis! Grato à todos!

Este blog não será mais alimentado, mas continuará ativo, como registro de tudo o que passou pelo NCDR.

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sábado, 31 de julho de 2010

PUBLICAÇÃO DO ARTISTA - ATO II


REGINALDO FRANCOLINO 
e suas
SENHORAS BENZEDEIRAS


"A pessoa tem que ter muita fé naquilo que faz e em que acredita.
Curar é um dom que Deus deu para que possa fazer o bem às pessoas
que tem problemas de dores nas costas, quebrante, olho gordo, indisposição e por ai vai...”
DONA VILMA DA SILVA FERREIRA, 73 anos, Benzedeira.


O menino foi levado e o menino foi benzido. O menino que gostava de desenhar na areia do campinho de futebol viu e soube da qualidade e da autoridade do feminino que cuida, que abençoa, que protege. A “Grande Mãe” estava lá, naquela benzedeira da infância, a Dona Zisuina, e aqui também, neste “Panteão de Benzedeiras” que nos revela as várias personalidades, essências, maneiras, expressões, fisionomias, energias do ser que cura com uma autoridade que não lhe foi concedida por nenhuma instituição oficial, mas veio diretamente da fonte, seja ela Deus, Natureza, Universo, Destino, Todo ou outro nome qualquer.


Esta é a grande mensagem das Benzedeiras de Francolino, que são variações de uma matriz: a benzedeira da infância que o impressionou pelo seu olhar impregnado de fé, piedade, compaixão, sabedoria, seriedade, e comprometimento com a cura e as “verdades ocultas, místicas”.


Ah, o olhar! Este é o fio condutor desta série de Francolino. O que viu aquele menino que tanto o impressionou e que desaguou nestas Benzedeiras? O místico, a sabedoria, a generosidade, a caridade? A elegância estranha, aquela que vem de dentro da alma e se mostra pelas suas janelas, os olhos? A autoridade de quem legitima a si mesma, baseada na vivência e na necessidade do outro de ser cuidado, protegido, limpo? O respeito de quem viu mais do que havia para ver, de quem sabe do terrível e do maravilhoso? O olhar destemido que revela a coragem de quem enfrenta o “mal” em nome da “luz”?


Francolino aborda estes olhares de forma assimétrica. São pares de olhos que em si são dois, diferentes: os dois lados da moeda, os dois lados da vida, claro e escuro, luz e sombra, trevas e verdade, ignorância e sabedoria, medo e liberdade. – Há um diálogo aí! E nele, a comunicação se faz grave e amorosa, séria e afetiva – e neste caminho, a Benzedura!


Mães, Irmãs, Avós, Vizinhas, Comadres... Africanas, Européias, Brasileiras, Asiáticas, Indígenas... Não importa! São mulheres conhecidas nas comunidades em que vivem e que usam a oração e os elementos da natureza como forma de cura das doenças físicas, sociais e espirituais, caracterizando uma maneira ritualística, mítica e simbólica de cuidar. São pontes entre a realidade concreta da vida e os mistérios da subjetividade humana.


A elegância das almas destas mulheres, Francolino expõe na sofisticação dos trajes e enfeites que comunicam a beleza espiritual – a harmonia mística, ética e estética necessárias a uma boa benzedura.
Os elementos gráficos nos levam às origens deste mundo mágico. Planetas, galáxias, sistemas solares, novas e velhas estrelas, órbitas, meteoros e asteróides – uma cosmogonia impregnada nas “vestes” da “Grande Mãe Curativa” que ao mesmo tempo também nos mostram contas, rendas, folhas, ibiris, rosários, gotas, ervas...


O traço forte e “sujo” na saudável medida necessária à Arte – certeiro e hermético, definido e incerto – arrebata pela espontaneidade e honestidade!
O nanquim, negro, sobre o branco papel couché, se reveste de brilho noturno e também se inverte, revelando o dia, a luz – criativa dança entre o sagrado e o profano.


As obras despertam em nosso imaginário a representação de um universo que se estende para além das representações intelectuais e cognitivas.


A prática da Benzedura tem elementos tanto do catolicismo como das práticas indígenas e da herança africana. Difícil saber ao certo onde termina a influência de uma cultura na outra. Tudo se mescla numa combinação benéfica de cura, principalmente em nosso País, o Brasil, onde a riqueza da diversidade cultural e a generosidade intrínseca à miscigenação potencializam as expressões do sagrado e do místico através de rituais, práticas e dogmas, nascidos desta multifacetada realidade cultural e que passam de geração em geração.


Francolino, Brasileiro, Masculino, Negro, 52 anos, vem atuando junto a diversos movimentos de manifestação cultural Afrobrasileira. Ele, em seus trabalhos, explora temas e signos da cultura negra, mostrando o quanto as contribuições culturais, sociais e religiosas desta cultura estão presentes em nosso cotidiano, de maneira ampla e enraizada.

Neste caminho, o artista nos presenteia com a visão da força espiritual das Benzedeiras, acrescida da forte influência da Mulher Africana, que através dos rituais, palavras, gestos, sons, objetos, cânticos e movimentos, curam, limpam, salvam, encaminham o ser humano, reconstruindo e recriando a vida e o mundo ao seu redor. Tanto na África como aqui ou em qualquer lugar do mundo é ela, a Mulher Negra, a mais significativa detentora da Energia, do Axé.


Reginaldo Francolino desenvolve trabalhos de pintura, desenho e xilogravuras em Guarulhos-SP, município onde reside.
- Nos anos de 1985/1988 participa do Centro de Conscientização do Negro, onde eram debatidas e encaminhadas aos órgãos públicos competentes, questões sociais relativas à população negra do município.
- No período de 1992/1993, colabora com ilustrações para o Jornal do Conselho da Comunidade Negra - SP.
- Participa em 1992 da organização de palestra/debate na Câmara Municipal de Guarulhos sobre o tema – Negro e Cidadania – na qual compõe a mesa como mediador. Este evento teve como convidados, entre outros, o escritor e sociólogo Clovis Moura, o Psicólogo e criador da Psicoterapia de Libertação Dermeval Corrêa de Andrade e representantes de entidades de classe do Município de Guarulhos.
- Recebe no ano de 1995 do Presidente da Câmara Municipal de Guarulhos, Sr. Wanderley Simone Figueiredo, diploma de Honra ao Mérito em homenagem ao 3º Centenário de Morte de Zumbi dos Palmares. O citado certificado é pelos serviços prestados a comunidade afrodescendente.
O artista explora em seus trabalhos temas e signos da cultura negra, procurando levar o observador de suas obras à reflexão sobre o assunto, ao mesmo tempo em que busca mostrar o quanto esta cultura está presente em nosso cotidiano, de maneira ampla e enraizada, contribuindo com suas expressões culturais, sociais e religiosas.
Dentro desse objetivo vem realizando algumas exposições:
- Em 2003 juntamente com a Organização para Desenvolvimento Sócio Cultural da Comunidade Afrodescendente de Guarulhos – ODESCCA – realizou uma mostra referente ao dia internacional da mulher.
- No mesmo ano em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura realizam a exposição – Impressões – Negras Imagens.
- O Festival Afrikambo do Centro Cultural Àdìmulà ilê Asé Órisà do Centro Cultural Africano, ocorreu no mesmo ano de 2003 e também contou com a participação do artista e suas obras.
- Em 2009 marca presença com seus trabalhos e sua temática na Conferência de Promoção da Igualdade Racial de Guarulhos e Região, sempre com propostas que buscam fomentar a importância da cultura negra no Brasil.

Um comentário:

  1. Meu tio tem um "Dom" maravilhoso que Deus lhe deu...
    Mostrando para todos que raizes negras não esta apenas na cor da pele...
    Ser negro é coisa de alma... Independente do tom da sua pele.
    E isso me faz muito orgulhosa de você Reginaldo Francolino!!!! beijo Juliana Novais

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